quinta-feira, 27 de novembro de 2014

NA MEMÓRIA TERRUNHA, A HISTÓRIA DE UM CEREALISTA PIONEIRO

Edição: 1825 - 21/08/2014

PIONEIRISMO. Hildebrando Antonio, aos 70 anos no escritório da empresa



Ele chegou a comprar 900 mil sacas de soja em 1990. Foi motorista, vereador, candidato a vice-prefeito e, durante algum tempo, um “gerente de um banco particular” para os agricultores com dificuldades financeiras. Enfrentou três falências: Frigorífico Medianeira, Oleolar e Pacaembu. Aos 70 anos, recuperando-se de um infarto, no velho escritório, onde comercializa materiais de construção, fez um balanço dos 55 anos de vida residindo em Medianeira

Hildebrando Antonio nasceu em 4 de março de 1944 em Imbituva (PR), sendo o filho mais velho de uma prole de 8 irmãos do casal José Antonio e Luiza Cosmo. A família Antonio tem três descendências. O avô paterno era português, a avó, alemã e os avós maternos italianos. Prevaleceu o sobrenome português. A família Antonio chegou à Medianeira em 1959 e o pai – José Antonio - passou a comprar feijão preto para vender na empresa Apiaba, em Irati (PR). “O pai tinha um caminhão tanque que trazia 25 mil litros de combustíveis de Curitiba para o Posto Esso, em Medianeira. Na ida, para não perder a viagem eu levava cerca de 300 sacas de feijão, isto no início dos anos de 1970. Fizemos frete de móveis para a Soberana Móveis de Matelândia que depois o Honorato Civieiro trouxe para Medianeira”, relembra Hildebrando.
A firma José Antonio & Filhos foi aberta em 1968, para o comércio de cereais, localizada na Av. Brasília, esquina com a Rua Sergipe, onde ainda está hoje o escritório e o depósito de materiais de construção. Na época Medianeira era uma espécie de “terra da promissão”, como diziam os pioneiros, e os negócios só tendiam a crescer, porque tudo estava para se fazer. Não havia asfalto, telefone, e os lotes urbanos eram ocupados por lavouras de feijão e milho. Palmito era abundante e muitas vezes servido como salada.
No início dos anos de 1970, já como nova razão social Hildebrando Antonio & Irmãos, a empresa já contava com um silo próprio (fundos do Hospital Santa Mônica), uma frota de 12 carretas Scania e um Volvo caçamba para puxar areia, quando a família entrou de e sola no ramo dos materiais pesados de construção. Com o início da mecanização agrícola, também na década de 1970, Hildebrando passou a ter uma estrutura de três silos: dois em Medianeira e um em Missal, na soma, com capacidade para armazenagem de aproximadamente 250 mil sacas/ soja ou milho. É neste momento que os agricultores passaram a vender a “soja verde”,antes da colheita. Chegavam em pencas no escritório do Hildebrando para pegar dinheiro vivo (só tinha Banco do Brasil em Foz do Iguaçu) ou cheque como pagamento adiantado. Muitos agricultores entregavam a produção que era pesada e paga na hora. “Gastei muitas folhas do talão de cheque. Tudo na confiança. Nunca deixei um produtor sem dinheiro, lógico, depois recebia a produção. Durante alguns anos fiz o papel de um banco particular, a céu aberto, na ponta do lápis”, confessa. Em 1975 comprou o “primeiro caminhão Scania com placas de Medianeira e o mesmo era equipado com rádio amador, um avanço para época”, diz.

No auge
Com a popularidade em alta, Hildebrando Antonio é eleito vereador pela ARENA, partido de sustentação do regime militar, obtendo a expressiva votação de 1.125 sufrágios, no ano de 1976, quando naquele pleito, as urnas registraram um total 15.171 votos e, Medianeira, não tinha eleição para prefeito, cargo este ocupado pelo interventor Luiz Bonatto (1920-2014). Neste embalo patrocina e participa de quase todas as festas religiosas no interior de município. Ainda hoje se pode ler dezenas de frases em canchas de bojas interioranas, com os dizeres: Apoio de Hildebrando Antonio. Nos leilões nas tardes domingueiras sempre arrematava um bolo. “Teve um leilão que de lance em lance acabei comprando ao valor correspondente a metade do preço de um carro zero”, ou o equivalente a R$ 13.000. Na sequência passa ser o principal acionista da Rádio Independência que entra no ar em dezembro de 1978. E a clientela aumentava dia por dia a“ponto de 1990 receber uma produção de 900 mil sacas de soja”.

As quedas
Três grandes falências contribuíram para o que poderia vir a ser o império de Hildebrando Antônio entrasse em desaceleração. A primeira foi a falência do Frigorífico Medianeira que o levou a perder algumas cargas de suínos, de granja própria ou de terceiros. No entrevero da queda do grupo Ruaro – Alfredo Paschoal Ruaro, (1914...) dono do Frigorífico e da Oleolar de Céu Azul, entre outras empresas. Na Oleolar o rombo foi de 90 mil sacas de soja. O golpe final veio com a falência da empresa Pacaembu de Cascavel, em 1990, que lhe custou nada mais e nada menos do que a perda de 214 mil sacas de soja. O recebimento de fumo também teve queda devido às campanhas antitabagismo e a grande quantidade de veneno usado nas lavouras. Na política sofreu outro duro viés quando em 1985 foi candidato da vice-prefeito na chapa encabeçada por Moisés Pistore, eleição vencida pelo ex-prefeito Adolpho Mariano da Costa (1936-2014).

Nova vida
Hildebrando Antonio apresenta-se como uma pessoa tranquila, como o olhar de quem não deve nada para a sociedade. “Mesmo com as falências, das empresas parceiras, eu não deixei na mão os agricultores. O capital que eu vendi foi para pagar os colonos, poucas são as reclamações”,esclarece. “Agora, continua, eu tenho que cuidar da minha saúde. Tive um infarto. Fiquei 13 dias na UTI e estou me recuperando bem. A diabete ainda me incomoda. Mas vou ficar bom”, comenta acompanhado da esposa Maria Marmentini (49 anos de casamento) e da filha Keli Cristina Antonio, advogada que cuida dos negócios do pai. Hildebrando ainda tem os filhos Neuso e Ana Luiza e a conta fecha com mais quatro netos.
Na política, o irmão mais novo, Sebastião Antonio, já foi vereador e vice-prefeito e atualmente trabalha na Cerme, Cooperativa de Eletrificação Rural, com sérias pendências financeiras, mas que está em fase de recuperação.
Quem efetivamente perdeu o emprego foram os chamados “chapas do Hildebrando”, mão de obra não especializada, fumante e com certa dependência do álcool que foi usada durante muitos anos nas atividades de carga e descarga de mercadorias. 
ROBERTO MARIN


MAIS FOTOS:

TRANSPORTE. Caminhão tanque trazia 25 mil litros de combustíveis e levava 300 sacas de feijão até Curitiba. foto 1967


MOTORISTA. Hildebrando ao volante de um caminhão Mercedes carregado com móveis, ao lado Luis Destri nos anos de 1970


CASAL. Hildebrando e esposa Maria, 49 anos de união


UNIÃO. Hildebrando e a esposa Maria Marmentini ladeados pelas filhas Keli, Ana Luiza e irmão Sebastião Antonio

FONTE

Jornal Mensageiro

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