PIONEIRISMO. Hildebrando Antonio, aos 70 anos no escritório da empresa
Ele
chegou a comprar 900 mil sacas de soja em 1990. Foi motorista,
vereador, candidato a vice-prefeito e, durante algum tempo, um “gerente
de um banco particular” para os agricultores com dificuldades
financeiras. Enfrentou três falências: Frigorífico Medianeira, Oleolar e
Pacaembu. Aos 70 anos, recuperando-se de um infarto, no velho
escritório, onde comercializa materiais de construção, fez um balanço
dos 55 anos de vida residindo em Medianeira
Hildebrando
Antonio nasceu em 4 de março de 1944 em Imbituva (PR), sendo o filho
mais velho de uma prole de 8 irmãos do casal José Antonio e Luiza
Cosmo. A família Antonio tem três descendências. O avô paterno era
português, a avó, alemã e os avós maternos italianos. Prevaleceu o
sobrenome português. A família Antonio chegou à Medianeira em 1959 e o
pai – José Antonio - passou a comprar feijão preto para vender na
empresa Apiaba, em Irati (PR). “O pai tinha um caminhão tanque que
trazia 25 mil litros de combustíveis de Curitiba para o Posto Esso, em
Medianeira. Na ida, para não perder a viagem eu levava cerca de 300
sacas de feijão, isto no início dos anos de 1970. Fizemos frete de
móveis para a Soberana Móveis de Matelândia que depois o Honorato
Civieiro trouxe para Medianeira”, relembra Hildebrando.
A
firma José Antonio & Filhos foi aberta em 1968, para o comércio de
cereais, localizada na Av. Brasília, esquina com a Rua Sergipe, onde
ainda está hoje o escritório e o depósito de materiais de construção. Na
época Medianeira era uma espécie de “terra da promissão”, como diziam
os pioneiros, e os negócios só tendiam a crescer, porque tudo estava
para se fazer. Não havia asfalto, telefone, e os lotes urbanos eram
ocupados por lavouras de feijão e milho. Palmito era abundante e muitas
vezes servido como salada.
No início dos anos de 1970, já como nova razão social Hildebrando
Antonio & Irmãos, a empresa já contava com um silo próprio (fundos
do Hospital Santa Mônica), uma frota de 12 carretas Scania e um Volvo
caçamba para puxar areia, quando a família entrou de e sola no ramo dos
materiais pesados de construção. Com o início da mecanização agrícola,
também na década de 1970, Hildebrando passou a ter uma estrutura de três
silos: dois em Medianeira e um em Missal, na soma, com capacidade para
armazenagem de aproximadamente 250 mil sacas/ soja ou milho. É neste
momento que os agricultores passaram a vender a “soja verde”,antes da
colheita. Chegavam em pencas no escritório do Hildebrando para pegar
dinheiro vivo (só tinha Banco do Brasil em Foz do Iguaçu) ou cheque como
pagamento adiantado. Muitos agricultores entregavam a produção que era
pesada e paga na hora. “Gastei muitas folhas do talão de cheque. Tudo na
confiança. Nunca deixei um produtor sem dinheiro, lógico, depois
recebia a produção. Durante alguns anos fiz o papel de um banco
particular, a céu aberto, na ponta do lápis”, confessa. Em 1975 comprou o
“primeiro caminhão Scania com placas de Medianeira e o mesmo era
equipado com rádio amador, um avanço para época”, diz.
No auge
Com
a popularidade em alta, Hildebrando Antonio é eleito vereador pela
ARENA, partido de sustentação do regime militar, obtendo a expressiva
votação de 1.125 sufrágios, no ano de 1976, quando naquele pleito, as
urnas registraram um total 15.171 votos e, Medianeira, não tinha eleição
para prefeito, cargo este ocupado pelo interventor Luiz Bonatto
(1920-2014). Neste embalo patrocina e participa de quase todas as festas
religiosas no interior de município. Ainda hoje se pode ler dezenas de
frases em canchas de bojas interioranas, com os dizeres: Apoio de
Hildebrando Antonio. Nos leilões nas tardes domingueiras sempre
arrematava um bolo. “Teve um leilão que de lance em lance acabei
comprando ao valor correspondente a metade do preço de um carro zero”,
ou o equivalente a R$ 13.000. Na sequência passa ser o principal
acionista da Rádio Independência que entra no ar em dezembro de 1978. E a
clientela aumentava dia por dia a“ponto de 1990 receber uma produção de
900 mil sacas de soja”.
As quedas
Três
grandes falências contribuíram para o que poderia vir a ser o império
de Hildebrando Antônio entrasse em desaceleração. A primeira foi a
falência do Frigorífico Medianeira que o levou a perder algumas cargas
de suínos, de granja própria ou de terceiros. No entrevero da queda do
grupo Ruaro – Alfredo Paschoal Ruaro, (1914...) dono do Frigorífico e da
Oleolar de Céu Azul, entre outras empresas. Na Oleolar o rombo foi de
90 mil sacas de soja. O golpe final veio com a falência da empresa
Pacaembu de Cascavel, em 1990, que lhe custou nada mais e nada menos do
que a perda de 214 mil sacas de soja. O recebimento de fumo também teve
queda devido às campanhas antitabagismo e a grande quantidade de veneno
usado nas lavouras. Na política sofreu outro duro viés quando em 1985
foi candidato da vice-prefeito na chapa encabeçada por Moisés Pistore,
eleição vencida pelo ex-prefeito Adolpho Mariano da Costa (1936-2014).
Nova vida
Hildebrando
Antonio apresenta-se como uma pessoa tranquila, como o olhar de quem
não deve nada para a sociedade. “Mesmo com as falências, das empresas
parceiras, eu não deixei na mão os agricultores. O capital que eu vendi
foi para pagar os colonos, poucas são as reclamações”,esclarece. “Agora,
continua, eu tenho que cuidar da minha saúde. Tive um infarto. Fiquei
13 dias na UTI e estou me recuperando bem. A diabete ainda me incomoda.
Mas vou ficar bom”, comenta acompanhado da esposa Maria Marmentini (49
anos de casamento) e da filha Keli Cristina Antonio, advogada que cuida
dos negócios do pai. Hildebrando ainda tem os filhos Neuso e Ana Luiza e
a conta fecha com mais quatro netos.
Na
política, o irmão mais novo, Sebastião Antonio, já foi vereador e
vice-prefeito e atualmente trabalha na Cerme, Cooperativa de
Eletrificação Rural, com sérias pendências financeiras, mas que está em
fase de recuperação.
Quem
efetivamente perdeu o emprego foram os chamados “chapas do
Hildebrando”, mão de obra não especializada, fumante e com certa
dependência do álcool que foi usada durante muitos anos nas atividades
de carga e descarga de mercadorias.
ROBERTO MARIN
MAIS FOTOS:
TRANSPORTE. Caminhão tanque trazia 25 mil litros de combustíveis e levava 300 sacas de feijão até Curitiba. foto 1967
MOTORISTA. Hildebrando ao volante de um caminhão Mercedes carregado com móveis, ao lado Luis Destri nos anos de 1970
CASAL. Hildebrando e esposa Maria, 49 anos de união
UNIÃO. Hildebrando e a esposa Maria Marmentini ladeados pelas filhas Keli, Ana Luiza e irmão Sebastião Antonio
FONTE
Jornal Mensageiro
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