“As pessoas dizem que não entendem como eu fui me tornar caminhoneira. Nasci no interior. Meu pai era tratorista, meus irmãos, lavradores. Mas sempre tive o sonho de conhecer o mundo em cima de um caminhão”, conta. Depois de ter sido dona de casa e ter trabalhado com costura, entre outras atividades, ela tomou coragem de procurar um emprego como motorista. Tinha carteira E, mas nenhuma experiência. Tinha feito um curso de uma semana, no Centronor, de Vacaria (RS).
“Comecei pelas pequenas empresas. Pensava que talvez me deixassem dirigir uma caminhoneta”, afirma. Recebeu muitos ‘nãos’. Mas quando foi à Bellaver, teve sorte: os donos da empresa, que são três, estavam querendo experimentar uma mulher ao volante. “Lembro do primeiro dia que peguei a carreta. Eu nem sabia dar ré. Demorou um tempo até eu entender que o jogo da carreta é o contrário do truck. Os três ficaram vendo o teste. No fim, um deles fez piada com os outros: ‘Não sei o que me preocupa mais, se é ela não saber dirigir ou não saber onde fica São Paulo’. Mas outro falou pra mim: ‘Vai logo, antes que a gente desista. E volte viva’. Eu fui.”

Seu caminhão está sempre brilhando. “Não saio de casa para fazer feio. Eu mesma faço o polimento nas rodas de alumínio e no tanque.” Nas últimas semanas, tem feito viagens noturnas para São Paulo, puxando brócolis congelado e voltando com sorvete ou chocolate. Não tem horário certo para comer e dormir, “porque a prioridade é estar na porta do cliente”, mas não se descuida da saúde. Faz a própria comida no caminhão. “Procuro comer produtos naturais e faço o meu suco de laranja.”
Mas não é só isso. Amarrada à cabine, carrega sua bicicleta. Tenta dar umas pedaladas e fazer musculação nas paradas todos os dias. “A gente trabalha o dia inteiro sentada. Malhar é fundamental”, declara.

Passando muito tempo longe de casa, Sheila diz que sempre contou com o apoio da sogra (que faleceu no ano passado) e dos pais para cuidar das crianças, que hoje têm 15 e 13 anos. Moram todos em duas casas no meu terreno. “Meus filhos são perfeitos. Nunca me cobraram por estar fora tanto tempo. De longe eu monitoro tudo pelo celular e whatsapp. Sei o horário que chegaram da escola, se alguém brigou. Tenho todo o cuidado de uma mãe.”
Sheila pensou em tentar participar do programa Big Brother, da TV Globo. Até gravou um vídeo, mas não se inscreveu por falta de tempo. “Para falar a verdade, eu não conheço o programa, não tenho tempo de assistir. Mas gostaria de ganhar. Compraria dois conjuntos (cavalo + carreta) dos mais tops, com rodas de alumínio. Colocaria uma outra mulher para rodar”, afirma.

Sobre a falta de segurança nas estradas, diz que viaja com a certeza de que vai voltar bem para casa. “Graças a Deus, nunca me aconteceu nada.” Apesar da má fama da categoria, nunca foi desrespeitada pelos colegas homens. “Nunca mexeram comigo, nunca me faltaram com o respeito.” Sobre as dificuldades da vida na estrada, ela afirma: “Faço aquilo que sempre sonhei. Até as coisas ruins eu encaro de forma natural, tento tirar lição de tudo”.
Sheila está noiva e, assim que sua casa própria estiver pronta, vai se casar. O noivo é de Erechim, também é caminhoneiro. “Ele me admira, não tem ciúme. Seremos felizes. Somos muito esforçados, vamos conseguir muita coisa juntos.”
FONTE CARGA PESADA E BLOG DO CAMINHONEIRO
Fonte: Revista Carga Pesada Texto de Dilene Antonucci
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