A Volvo vai encerrar na segunda-feira o segundo turno da produção de caminhões na fábrica de Curitiba (PR), o que vai resultar num excesso de mão de obra no parque industrial de 600 operários, ou 15% dos aproximadamente 4 mil funcionários empregados pela empresa. A multinacional sueca está negociando com o sindicato dos metalúrgicos da região, alternativas para evitar a demissão desse contingente. Entre as propostas, quer reduzir para R$ 15 mil o valor da Participação nos Lucros e Resultados (PLR) de 2015, metade dos R$ 30 mil acertados nos dois últimos anos, quando a Volvo pagou a maior PLR entre as montadoras do país.
Além disso, a empresa pretende apenas corrigir a variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) no reajuste salarial previsto para setembro, diferentemente do aumento de 2,5% acima da inflação (reajuste real) de 2014. Como contrapartida, a Volvo se compromete a manter os 600 empregos ameaçados até dezembro.
A fabricante de veículos comerciais argumenta em nota que está tomando a medida para amenizar os efeitos da crise do setor de transportes no Brasil. Como reflexo da fraca atividade econômica, a produção de caminhões no país teve queda de 45,2% nos quatro primeiros meses deste ano, segundo levantamento divulgado ontem pela Anfavea, a entidade que representa as montadoras. Só no segmento de caminhões pesados, onde a Volvo atua, houve um recuo de 60,8% do consumo no período.
Somando a essa conta os carros de passeio, os utilitários leves e os ônibus, o balanço da Anfavea mostra que tanto as vendas como a produção de veículos caíram no primeiro quadrimestre para o nível mais baixo em oito anos. Isoladamente, o mês passado também foi o pior abril em oito anos nos dois indicadores.
De janeiro a abril, 893,6 mil veículos foram vendidos no Brasil, 19,2% a menos do que em igual período de 2014.
Na mesma base de comparação, a produção das montadoras caiu 17,5%, somando 881,8 mil veículos. Desde 2010, o mercado e a produção do setor não chegava ao quarto mês abaixo da marca de 1 milhão.
Apesar das medidas para diminuir o ritmo das linhas de montagem, o estoque de veículos nos pátios de montadoras e concessionárias não para de subir. O encalhe, conforme o último balanço da Anfavea, chegou a 367,2 mil unidades, o suficiente para 50 dias de venda. Um mês atrás, eles estavam em 360,4 mil veículos, com giro de 49 dias se a conta for feita com base no ritmo do mercado apresentado em abril. O objetivo das fabricantes é reduzir isso para perto de 30 dias.
Só em abril, os fabricantes de veículos, mais as fábricas de máquinas agrícolas, cortaram 1,2 mil postos de trabalho, elevando para 20 mil vagas o número de demissões registradas desde novembro de 2013, quando as empresas deram início ao atual ciclo de ajuste na mão de obra.
Na Volvo, a política salarial proposta pela montadora para dar sobrevida aos empregos excedentes já foi rejeitada nesta semana em assembleias dos trabalhadores do primeiro e do segundo turno. “Precisamos manter o foco na luta pela manutenção dos empregos, mas ao mesmo tempo também não podemos aceitar qualquer tentativa de redução de direitos conquistados com anos de luta”, disse, em nota, o presidente do sindicato dos metalúrgicos de Curitiba, Sérgio Butka.
A montadora, porém, adianta que não há como melhorar o que está sendo oferecido e quer que sua proposta volte a ser submetida à votação. “O sindicato entende que deveríamos manter PLR de R$ 30 mil e reajustes acima da inflação. Mas não faz sentido fazer isso num ano em que o mercado cai pela metade”, afirma Carlos Morassutti, vice-presidente da Volvo responsável pelos recursos humanos.
Ontem, a greve iniciada há um mês nas linhas da Chery em Jacareí (SP) chegou ao fim após a montadora aceitar 50 cláusulas do acordo coletivo da categoria, o que inclui reajustar o piso salarial da fábrica de R$ 1,2 mil para R$ 1,9 mil.
Fonte: Valor Econômico